Considerando que importa atribuir designação toponímica urgente e adequada ao arruamento da “Urbanização da Piedade” que se desenvolve em paralelo à nova “Rua Padre António Vieira”, na zona Norte da Rua Cardeal Humberto Medeiros, na freguesia dos Arrifes, no âmbito da operação de loteamento desenvolvida pela AldeiasIlha – Promoção Imobiliária S.A.;
Considerando que a nova urbanização adoptou a designação genérica de “Piedade” e se desenvolve a partir da rua dedicada ao Cardeal Humberto de Sousa Medeiros, natural da freguesia dos Arrifes, a personalidade açoriana que atingiu a mais elevada posição hierárquica da Igreja Católica, pelo que convém adoptar designação toponímica contígua que lhe esteja de alguma forma tematicamente relacionada;
Considerando que o próprio arruamento de acesso à referida urbanização foi por isso recentemente dedicado à comemoração do quarto centenário do nascimento de uma das mais importantes figuras históricas da Igreja lusófona, o Padre António Vieira (1608-2008), que chegou a visitar a nossa cidade e a cujo programa de evocação nacional se associou oficialmente a Câmara Municipal de Ponta Delgada;
Considerando que a Assembleia de Freguesia de Arrifes deliberou propor à Câmara Municipal de Ponta Delgada a atribuição do nome de Monsenhor José Ribeiro Martins para identificação toponímica do referido arruamento;
Considerando que o Monsenhor José Ribeiro Martins, natural desta freguesia dos Arrifes, se notabilizou neste concelho de Ponta Delgada ao serviço da Igreja e da Comunidade, como bem testemunha a seguinte intervenção biográfica proferida pelo Dr. Paulo Gusmão na comemoração das Bodas de Ouro Sacerdotais em 2004:
“É com grande alegria e muita emoção que festejamos os 50 anos de sacerdócio do nosso reverendo pároco, Monsenhor José Ribeiro Martins.
A sua história pessoal nos últimos 27 anos confunde-se com a história da nossa comunidade. Desde 31 de Outubro de 1977 que a Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada tem a Graça de ter por pastor sua reverência.
É filho de Manuel da Silveira Martins e Maria Evelina Ribeiro, tendo nascido na paróquia de Nossa Senhora da Saúde, nos Arrifes, a 5 de Novembro de 1929.
Longe estão esses anos em que, ainda criança, pela mão da sua boa e santa mãe, bem de madrugada, descia à cidade, para participar na primeira missa dominical desta nossa Matriz, às 5 horas da manhã.
Brilhante e humilde desde a sua juventude foi com esse timbre que frequentou o Seminário Episcopal de Angra, terminando com “distinção”.
Foi ordenado de Presbítero na Sé Catedral de Angra a 30 de Maio de 1954, data que hoje festejamos e a Deus agradecemos. Foi ordenado no Ano Santo Mariano que comemorou o primeiro centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, curiosamente a maior festa da nossa paróquia.
Durante 22 anos desenvolveu grande acção apostólica na sua primeira paróquia, a de Nossa Senhora dos Anjos na Fajã de Baixo, onde sempre foi muito querido por todos os paroquianos. Bastará lembrar a ternura de cada criança que, antes de ir para a escola, ia dar os bons dias ao seu pároco, ali mesmo na casa ao lado da sua Igreja, para termos a ideia da estima que a comunidade da Fajã de Baixo tinha e continua a ter pelo seu bem amado Padre Ribeiro.
Quando aqui chegou à nossa paróquia, sua reverência era já conhecido em toda esta Ilha do Arcanjo pelos seus dotes oratórios. Desde jovem padre subiu ao púlpito de todas as igrejas da Ilha, tendo falado ao coração de todos os micaelenses durante estas décadas de sacerdócio, distinguindo-se sempre como um dos maiores pregadores da Igreja Açoreana ao lado dos melhores de outros tempos e cujo nome passados muitos e muitos anos continuamos a lembrar.
Era grande desde o início a alegria de cada comunidade quando chegava a notícia de que o pregador que estava convidado era o jovem Padre Ribeiro.
Como em tudo na vida, brilhante e humilde: sempre pôs os seus dons ao serviço da Palavra de Deus. Ao invés de aproveitar o seu brilhantismo para encontrar as suas próprias doutrinas, deixava que o Espírito Santo falasse e proclamava o magistério da Igreja, sempre actualizado e adaptado ao seu tempo. Nunca precisou de encontrar diferenças com a Igreja para ser notado: sempre em comunhão com a Igreja, rapidamente foi o melhor entre os seus pares.
Foi também por tudo isto que na festa de Cristo Rei de 1977 a comunidade de São Sebastião de Ponta Delgada recebeu o seu novo pároco com grande entusiasmo.
Desde aí a história da nossa comunidade é a história da sua acção pastoral. Desde aí cada uma das nossas histórias pessoais ficou marcada pela sua acção apostólica.
Passados 27 anos a obra de Monsenhor José Ribeiro Martins está presente em toda a vida da nossa paróquia. Na fé, na tradição, na palavra de Deus, nos nossos movimentos paroquiais, nos nossos templos e sobretudo no coração de cada paroquiano.
Distinguiu-se na Palavra, distinguiu-se na acção apostólica, mas distinguiu-se também no zelo com que administrou a nossa comunidade paroquial.
Mesmo tendo perdido muita população, a nossa paróquia continua a ser uma comunidade viva.
Desde que aqui chegou que o nosso Pároco deu vida às celebrações e dinamizou os movimentos paroquiais.
Por mero exemplo lembre-se a instituição dos primeiros ministros extraordinários da comunhão, logo em 1978; o jornal paroquial “O Sinal”, em 1979, hoje substituído pelas modernas tecnologias informáticas; o rancho de romeiros da Matriz que pela primeira vez na história das romarias saiu desta cidade de Ponta Delgada em 1981; a revitalização da Confraria do Santíssimo em 1984; e o primeiro curso de pastoral litúrgica, em 1986.
No campo social e pastoral muitas são as infra-estruturas de apoio que hoje temos graças ao seu dinamismo e empenho. Lembro a residência para as Religiosas nos Bairros Novos, construída em 1980; a criação do Centro de Bem Estar Social João XXIII, que desde 1980 tutela o infantário na Rua Manuel da Ponte; a organização do Arquivo da Paróquia e da Ouvidoria, instalando-os no edifício da Rua do Valverde, no mesmo ano; a construção do Centro de catequese dos Bairros Novos, anexo à Igreja, em 1982; a inauguração do Centro de Oração na cave do Centro Paroquial, em 1985; as obras que permitiram a adaptação da casa da Rua dos Mercadores, deixada a esta Igreja, a duas residências paroquiais, em 1987; e a aquisição a título precário do Solar da Arquinha para o Centro Social João XXIII, em 1995.
A Matriz de Ponta Delgada é hoje conhecida pelas suas Celebrações festivas e participadas. Para além da solenidade com que são vividos os ciclos litúrgicos, com um Coro herdeiro da melhor tradição coral desta cidade, e até um grupo de animação jovem, o mais antigo da Ilha, e um sempre esmerado grupo de acólitos, recorde-se algumas das festas próprias da nossa paróquia que com o nosso Pároco ganharam nova vida: a do nosso padroeiro S. Sebastião; a do Santíssimo Sacramento; a de Santana que ressurgiu em 1978; a de S. Brás em 1979; a da Senhora das Mercês em 1983; e as da Senhora da Conceição, com procissão desde 1999.
Mas a nossa Igreja é conhecida também por ser um dos mais bem conservados e sempre bem ornamentados templos da nossa Ilha.
Das várias obras de restauro da Matriz e dos outros templos mais pequenos, destaca-se, pelo seu simbolismo, a Sacristia Museu da Igreja Matriz, em Maio de 1985.
Sobre a inauguração deste magnífico tesouro, que simboliza as dádivas de muitas gerações de paroquianos, permitam-me que cite algumas das expressivas e instrutórias palavras de Monsenhor José Ribeiro nesse mesmo dia: “Como Pároco desta comunidade, este momento é para mim de grande importância, se bem que tenho a consciência de que aqui me encontro não propriamente como guarda e conservador de objectos de arte e de que os templos materiais não se podem, nem se devem, transformar em museus, pois foram construídos com outra finalidade, pois a Igreja não está ao serviço da arte, mas antes pelo contrário a arte ao serviço da Liturgia. Por este motivo, ao Presbítero, quando lhe é confiado o serviço de uma Comunidade Paroquial, ele tem de colocar-se, antes e acima de tudo, ao serviço e construção de uma Igreja formada por “Pedras Vivas” em íntima colaboração com o Bispo diocesano, sinal de unidade da Igreja fundada por Jesus Cristo, para ser no mundo o “Sacramento de Salvação”, todavia, na minha sensibilidade de homem e de padre, sinto que o templo material tem grande influência na edificação e presença da Igreja de Jesus Cristo no mundo, por isso não devem ser descuradas a sua conservação e estado de limpeza. Afirmou o Concílio Vaticano II que “as obras de arte tendem por natureza a exprimir de algum modo, nas obras saídas da mão do homem, a infinita beleza de Deus”.”
Foi esse lema que fez com que hoje a nossa vida paroquial fique marcada pela obra de Monsenhor José Ribeiro nos grandes sacramentos ou nos pequenos símbolos: a mesa da Eucaristia é um bonito altar construído em 1979; as nossas crianças são baptizadas na primitiva pia que encontrou num depósito da Arquinha em 1979, no altar que foi adaptado para capela baptismal, aquando da conclusão da harmonização dos espaços do templo com as orientações que se seguiram à Constituição Sacrossatum Concilium, em 1995; o Menino, que no Natal veneramos com ternura, aqui chegou em 1979; o artístico presépio que todos os anos é exposto aos fiéis foi restaurado e colocado na Igreja no Natal de 1981; os sinos da Matriz, sinal público da presença da Igreja na cidade, voltaram a tocar na festa da Imaculada Conceição de 1981, após o restauro que lhes voltou a dar voz; o órgão de tubos voltou a soltar os seus imponentes acordes na festa da Imaculada Conceição de 1991, após o seu completo restauro; ou até a valiosa coroa do Divino Espírito Santo, que desde a sua aquisição em 1997 assinala na nossa Igreja estes dias que agora passam.
Toda a Igreja da Matriz está restaurada de uma forma profunda que devolveu ao nosso templo a beleza que lhe pertencia. Foi reiniciado o seu restauro, interrompido há décadas, em 1979, tendo sido recuperada ao longo destes anos. A Cantaria da Capela-mor e da Capela do Senhor dos Passos logo nesse ano; a Capela de S. Roque, em 1980; os Altares de Santo António e de São João Baptista, com a recolocação da sua talha em 1981; a criação da Capela privativa do Senhor dos Passos e da Senhora da Soledade, também em 1981; o restauro e adaptação da actual Capela de Nossa Senhora da Conceição, na Páscoa de 1982; a Capela de Nossa Senhora do Rosário, em 1985; o restauro do Altar e Capela das Almas, nesse mesmo ano; a inauguração dos vitrais de São Pedro e São Paulo, em 1986; a conclusão o restauro de toda a cantaria da Igreja Matriz, nomeadamente os arcos, as abóbadas e os florões das várias capelas, na Páscoa de 1990; o restauro do cadeirado da Capela Mor, inaugurado na Páscoa do ano seguinte; a inauguração da exposição dos ricos paramentos da nossa Igreja, no Coro Alto, também em 1991; entre muitas outras obras de conservação, como a de conservação das paredes, arranjo do sobrado e pintura da bancada, que decorreu agora em 2004.
Mas também os outros templos da paróquia beneficiaram da mão empreendedora do Padre José Ribeiro.
A Ermida de Santana foi logo em 1978 completamente restaurada, de uma forma profunda.
A agora Igreja de Nossa Senhora das Mercês, nos Bairros Novos, foi ampliada em 1982; tendo sido nela exposto o seu grande Crucifixo, que assinalou em 1983, os 1950 anos da morte de Cristo; e tendo sido inaugurados os seus sinos na Páscoa de 1984.
A ermida de S. Brás, aquando do seu quarto centenário, em 1984, foi alvo de obras profundas de talha, cantaria, electricidade e bancada.
Até as muitas ofertas, doações e testamentos que mereceu a nossa paróquia são também corolário do carinho que o nosso Padre tem com a nossa comunidade. Desde logo as suas próprias ofertas pessoais que de forma desprendida tem feito a esta Igreja, seja para o arquivo, seja em Imagens, seja até em contributos financeiros importantes que certamente muito agradecemos. Mas são também as ofertas de muitos paroquianos o resultado desse carinho. É bem o exemplo disso muitas das peças que hoje estão na Sacristia Museu da nossa Igreja ou até mesmo alguns testamentos.
Padre José ribeiro Martins, nomeado Ouvidor em 1977 e Vigário Episcopal da Ilha de São Miguel em 1979, desta Matriz, Igreja Mãe da cidade e da Ilha, marcou o seu tempo de forma tão positiva que se distingue na nossa história. Os longos anos em que Monsenhor José Ribeiro exerceu o cargo de Vigário Episcopal da nossa Ilha foram tempos de uma pastoral dinâmica, de participação activa dos cristãos e de completa unidade da Igreja em comunhão com o seu Bispo.
Em Novembro de 1991 foi nomeado pela Santa Sé Capelão de Sua Santidade o Papa João Paulo II, com o título de Monsenhor.
Na nossa paróquia, que não é apenas a nossa freguesia mas esta Igreja aberta à cidade e à Ilha, é grande a nossa gratidão. Na nossa paróquia, na nossa cidade, na nossa ilha, é imensa a gratidão pessoal de cada um dos nossos paroquianos. Cada um de nós tem no nosso bom pároco um exemplo de vida e a certeza de que Cristo continua entre nós através da Igreja. Cada um dos nossos paroquianos tem certamente guardadas na sua memória as quantas e quantas vezes em que o nosso apóstolo foi o amigo compreensivo do jovem, o conforto do doente, o auxílio pessoal e caritativo do pobre, o elo de unidade de famílias desfeitas, a ajuda de quem procura uma mão amiga, o perdão de quem peca, o sinal da eternidade.
Deus lhe dê muita vida e saúde. A nossa paróquia tem em si um tesouro vivo, pelo seu zelo apostólico e dedicação ao serviço do Povo de Deus, o maior sinal da infinita bondade de Deus nesta Matriz de Ponta Delgada.
Certamente muito fica por dizer. Aceite apenas estas palavras como o apreço desta sua comunidade e a profunda admiração pessoal deste seu afilhado e amigo.”
A Comissão Municipal de Toponímia, reunida no Centro Municipal de Cultura aos 6 de Junho de 2008, deliberou, por unanimidade, propor à Câmara Municipal de Ponta Delgada, com conhecimento da Junta de Freguesia de Arrifes, que seja atribuída a seguinte designação toponímica para identificação oficial do arruamento da “Urbanização da Piedade”, na freguesia dos Arrifes, que se desenvolve a partir da “Rua Padre António Vieira” e de forma paralela a esta:
RUA MONSENHOR
JOSÉ RIBEIRO
ORADOR SACRO
VIGÁRIO EPISCOPAL DE S. MIGUEL
O PRESIDENTE DA COMISSÃO
JOSÉ MARIA DE MEDEIROS ANDRADE